Ao
longo da história, a humanidade foi avançando no conhecimento científico e
tecnológico. Com o movimento do real, a cada descoberta surgem novas
necessidades que impulsionam novas descobertas para satisfazer essas
necessidades surgidas. O ser humano é o único ser que necessita do supérfluo,
Do “sonhar” para viver, o supérfluo também se torna necessidade.
É
função da escola e do professor proporcionar aos educandos a apropriação do
conhecimento produzido pela humanidade para que o aluno consiga
compreender a realidade onde vive, suas
implicações micro e macro para exercer a sua cidadania.
Até
mesmo para o cumprimento do princípio constitucional- “igualdade de condições para o acesso e permanência
na escola”- temos que ter uma preparação teórico/metodológica que leve em conta
a construção do conhecimento e não a exclusão do aluno.
Como garantir a
transmissão cultural para as novas gerações proporcionando efetiva assimilação?
Segundo VASCONCELLOS, (1993: 34):
“A
preocupação, pois não é só que o aluno conheça determinado objeto, no sentido
de apreender suas relações básicas. A questão central não é a dos conteúdos
escolares, mas da necessária mediação que estes conteúdos devem fazer no
sentido de remeter o sujeito para a compreensão da realidade (ter condições de
aprender o movimento do real para nele intervir); (...) temos que superar o
circuito alienado da escola atual onde
tudo: “funciona bem: O professor
transmite e o aluno reproduz na prova!”
A
maior preocupação da escola e do professor deve ser de como encontrar
metodologia adequada que privilegiem a construção do conhecimento, que permita
que o aluno compreenda a relação do conteúdo aprendido na escola com sua
atividade prática fora do espaço escolar.
Numa abordagem dialética o conhecimento é visto de forma
histórica, processual, mutável e aceito como legítimo em determinada
época, variando de acordo com a
cultura.
O homem é um ser ativo e
de relações. “Assim compreende-se que o conhecimento não é transferido ou
depositado pelo outro (conforme a concepção tradicional), nem é inventado pelo
sujeito ( concepção espontaneísta) mas
sim, construído pelo sujeito na sua relação com os outros e com o mundo.”( VASCONCELLOS, 1993, p. 45). Desta
forma, os conceitos não podem ser dados prontos como verdades únicas e
imutáveis. O professor deverá proporcionar ao aluno inúmeras interações para
que o aluno elabore e reelabore seus conceitos.
Para
podermos entender a elaboração conceitual que o sujeito realiza
precisamos, diferenciar funções
elementares do sujeito (sucção do seio materno pelo bebê) e funções superiores.
Segundo Vygotsky, funções elementares são aquelas que o sujeito possui no ato
do nascimento, faz parte do biológico de cada indivíduo. No entanto, as funções
psicológicas superiores são aquelas que diferenciam o ser humano do animal. É
possível ensinar um animal acender uma luz num quarto, mas este não tem a
capacidade de perceber que não deve acender esta luz quando alguém está dormindo
neste ambiente. Essa tomada de consciência do elemento novo - alguém dormindo
no quarto - é um comportamento superior. A capacidade de lembrar de fatos
ocorridos anteriormente e de planejar o futuro, só o ser humano possui, por
isso é chamada de superior.
Para podermos entender o
funcionamento psicológico vygotskyano, também é necessário, compreender o conceito de mediação. Segundo
OLIVEIRA ( 1995: p.26) “o processo de interação de um elemento intermediário
numa relação, deixa de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento”.
Exemplo: Para se apropriar da linguagem escrita, o sujeito utiliza a linguagem
oral como mediadora. Mediação são os instrumentos, os signos utilizados para a
apreensão de conceitos.
Outro
pressuposto teórico que devemos levar em conta para a construção do
conhecimento é o conceito de interação social. A apropriação do conhecimento só
acontece num processo de trocas entre sujeitos com diferentes experiências.
Esse outro pode ser o colega com experiência diferente, o professor, o livro ou
outros instrumentos porque o ser humano só se desenvolve socialmente. Se
isolarmos uma criança dos demais seres humanos no momento de seu nascimento,
ela não se torna humana. Não nascemos humanos, nos tornamos na convivência com
os humanos e os elementos da sua cultura.
Retomando
o pressuposto teórico da interação social, é importante lembrar que para que
ela realmente aconteça na sala de aula é imprescindível que a turma seja
heterogênea. Entre iguais não há possibilidade de trocas. Só haverá trocas
entre pessoas com visões de mundo diferentes, com ritmos diferenciados. É na
diversidade de idéias que há crescimento. Lembrando que o professor é o responsável pelas interações na sala de
aula.
Outro
pressuposto de Vygotsky que temos que levar em conta é que desenvolvimento e
aprendizagem são processos concomitantes. O desenvolvimento não precede a
aprendizagem, ambos acontecem simultaneamente. Muitos professores questionam que não é função da pré-escola
alfabetizar. Não é função se estes profissionais possuem o conceito de
alfabetização como decodificação. Se passarem a ter um conceito que a
alfabetização se inicia antes mesmo da entrada da criança na escola e perdura
durante todo o período que o sujeito estiver construindo conhecimento. Pré-escola
não deve ser período preparatório, mas sim, de um espaço de construção de
conceitos científicos sobre as diversas áreas do conhecimento, pois é ali que
se ampliam os horizontes das crianças que começam a ter uma visão global do
espaço onde vivem e sentir-se como sujeitos de sua história.
A
elaboração conceitual é muito importante no processo de construção do
conhecimento. Ao elaborar conceitos fundamentais como tempo, espaço, espaço
absoluto, espaço relativo, meio biótico e abiótico entre outros, o aluno é
colocado diante da tarefa de entender as bases dos sistemas de concepções
científicas, que se diferenciam dos conceitos do senso comum. “Os conceitos
sistematizados são partes de sistemas explicativos globais, organizados dentro
de uma lógica socialmente construída e reconhecida como legítima que procura
garantir-lhes coerência interna.” ( FONTANA, 1996: p. 24)
Para
haver elaboração conceitual, a mediação da palavra é essencial para a
compreensão significativa dos conceitos. Toda palavra procede de alguém e se
dirige para outrem. No caso da escola, devemos ser claros ao fazermos uso das
formas de linguagem, para que o aluno consiga compreender a mensagem
transmitida.
Vygotsky
chama a atenção para o processo de elaboração conceitual, dizendo que, o aluno
necessita dialogar com os conceitos científicos, estabelecendo correspondência
com os saberes e experiências de seu grupo social e de outros. Nessas relações,
o aluno começa a elaborar o significado da palavra, a experimentá-la em seus
enunciados, à luz de outras palavras e de outros enunciados. Isto significa que
teremos de trabalhar os conhecimentos
com inúmeras “atividades de aprendizagem” envolvendo as diferentes áreas do
conhecimento, até que as crianças, possam de fato, se apropriar dos conceitos.
Cabe a nós possibilitar a criança o encontro com novos conceitos.
explicitando-os em contextos diversos, destacando-os nestes contextos,
possibilitando a expressão de sua compreensão inicial, auxiliando-os a analisar
e organizar essas elaborações iniciais, confrontando-as com outras
possibilidades de elaboração, introduzindo e especificando elementos e
informações que possam apurar os conceitos construídos.
Não
há como falar de elaboração conceitual sem lembrar da Teoria da Atividade. É
comum nas escolas, quando falamos de atividades, citar qualquer coisa que o
aluno faça como atividade. Copiar texto do quadro, fazer caligrafia, exercícios
de separação de sílabas, durante muito tempo foi considerado atividade. Mesmo o aluno não querendo fazer, ou fazendo
mecanicamente denominávamos de
atividade.
Segundo
o dicionário AURÉLIO atividade é: “Qualidade ou estado de ativo - ação”. Em
primeiro lugar, para estar ativo, ao realizar uma atividade, o aluno deve fazer
algo que ele tenha um objetivo a alcançar, não somente para o professor, isto
deve estar claro para o aluno também. Toda atividade deve ter um motivo para
ser considerada como atividade de aprendizagem.
Se
for meu desejo uma carteira de motorista, eu vou decorar toda legislação e os
sinais de trânsito para passar no teste de legislação. Farei tudo aquilo que eu
até acho que não é importante porque tenho uma finalidade, “carteira nacional
de habilitação”.
Transpondo
para a escola, serão atividades, aquelas que tem uma finalidade, aí então ela pode
ser nomeada de “Atividades de Aprendizagem”.
A
Proposta Curricular de SC (1991, 1998) Apresenta a concepção Histórico Cultural
de Vygotsky como linha norteadora. A
Teoria da Atividade é decorrente desta concepção. Tem como expoentes Leontiev,
Luria, Davidov, e Lompscher. A Teoria da Atividade dá conta de realizar a
transposição didática. A grosso modo, é o como fazer, para nós professores.
Evani Terezinha Gomes de Oliveira
Assessora Pedagógica
REFERÊNCIAS
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FONTANA, Roseli A .Cação . A elaboração conceitual: a dinâmica das
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OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vigotsky: aprendizado e desenvolvimento, um
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